Isso é tudo Photoshop

“Isso é tudo photoshop!” Ep. 9 – O que está por trás de uma fotografia?

Imaginar, planear e fotografar

Apesar de cada fotografia ser única, há passos comuns a praticamente todas as fotografias que faço:

  • Imaginar
  • Planear
  • Fotografar

Para facilitar a escrita deste artigo, vou usar uma fotografia como exemplo, mas a ideia que quero deixar é que isto é válido para praticamente qualquer fotografia minha.

Imaginar

Sim! Sou fortíssimo no Pictonary ®!

Nesta fase, a fotografia começa a ganhar forma na minha cabeça. Faço um esboço mental daquilo que pretendo.

Não tem que ser obrigatoriamente um esboço rígido. Há sempre margem para variações à ideia original. Por exemplo, penso numa fotografia e projecto 2 ou 3 alternativas que me satisfaçam.

Pegando na fotografia “When you wish upon a star“, a ideia original era essa mesmo: uma árvore daquele género, razoavelmente bem tratada, com uma boa copa e isolada.
Depois queria a presença do elemento humano. Apesar de ser raro encontrarem pessoas nas minhas fotografias, achei que era a situação ideal para começarem a aparecer!
Por fim, ter a cena iluminada de forma artificial, dando ênfase à árvore e pessoa.
Isto tudo posicionado de forma a que a via láctea servisse de “tecto”.

No entanto, tinha duas variantes possíveis: uma apenas com a árvore e outra com a silhueta da pessoa.

Alternativas à ideia principal

Parece-me importante ter sempre mais do que uma alternativa, pois há factores que não controlamos, e podemos ter que adaptar ao que temos. Idealmente gosto de já ter essas alternativas preparadas. Mas mesmo assim, às vezes não chega e é preciso improvisar. Sobre este tema, podem ler mais no artigo “Questões derivadas de situações!” Ep. 2 – Mudança de planos

Planear

Depois de imaginada como quero a fotografia, começo a planear a sua execução.

Para a fotografia “When you wish upon a star” precisava de encontrar uma árvore isolada, com uma copa bem tratada (com um bom volume e maioritariamente coberta de folhas) e que conseguisse alinhar com a via láctea. 

Esta fase demorou uma manhã inteira. A maior parte das árvores que ia encontrando ou estavam dentro de propriedades vedadas ou não tinham um acesso fácil (não esquecer que é uma fotografia feita em plena noite). 

Mas lá encontrei a árvore, numa estrada sem saída no Alqueva. 

Depois, precisava duma pessoa: “Oh Dália! Acho que vais entrar numa fotografia minha!” 😂

Para iluminar a cena tinha uma lanterna com uma temperatura de cor quente, e de baixa intensidade. Perfeito! 

Em relação à via láctea, era esperar pela noite e acender umas velas ao S. Pedro para me presentear com um belo céu estrelado.

Os ingredientes estavam escolhidos. Faltava simular como ficavam todos juntos.

Usei uma app chamada Photopills para simular a posição da via láctea em relação à árvore e com isso encontrar o sítio de onde ia fotografar à noite.

Photopills e a sua “realidade aumentada”

Faltava agora saber como “montar” a fotografia: 1 exposição? 2? 5? E qual a distância focal?

Era certo que não ia ser apenas com uma exposição. Primeiro, porque queria fazer stack para redução de ruído. E só para isto ia usar umas 5 ou 6 exposições. Segundo, porque só tinha uma lanterna e queria mais do que uma fonte de luz (ou seja, ia precisar de uma exposição por cada fonte de luz).

Então ficou assim planeado: 5 exposições com foco apenas na via láctea, que ia usar para reduzir o ruído (pelo uso de ISO elevado).
Outra exposição a iluminar a árvore/chão pelo lado esquerdo, e outra exposição para o retrato com a lanterna a apontar para a copa da árvore.
Um total de 7 exposições.

Em relação à distância focal, por experiência, sabia que queria usar 35mm para dar maior destaque à via láctea, coisa que com 16mm se ia diluir na fotografia.

O plano estava feito. Falta a execução.

Fotografar

Depois de tudo planeado, esta era a parte mais fácil: seguir o plano e não inventar.
Chegando aqui é como se a fotografia já estivesse feita.

Tripé colocado no local que já tinha definido de manhã, máquina em cima do tripé, 35mm, foco no infinito e começar a disparar.

Primeiras 5 exposições em disparo contínuo. Fácil.

As próximas duas exposições é que podiam demorar mais tempo pois precisava de encontrar a exposição certa, o que ao usar uma lanterna nem sempre se consegue à primeira. E foi o que aconteceu. Precisei de 2 tentativas até acertar. Nem foi muito mau!

Apesar de ter usado esta fotografia como exemplo, quase todas as minhas fotografias seguem este esquema: imagino como quero a fotografia, faço um plano e executo-o.
Claro que também tenho fotografias “oportunistas”, no sentido em que não foram planeadas, mas perante determinado cenário, agi em conformidade.

Como é óbvio, a fotografia está longe de estar terminada, mas no terreno já não há mais nada a fazer. Daqui para a frente, “Isso é tudo Photoshop!”.

“When you wish upon a star”

(3) Comments

  1. Nelson Tremoço says:

    Excelente artigo! Eu sou amador, comprei uma Nikon D5300 em 2º mão e possuo uma Tokina 11-16mm com que faço umas brincadeiras experimentais em pleno alentejo mas nunca sabia como saber qual a melhor hora para apanhar o braço da via látea então nunca ficava nada de surpreendente. Graças a este e outros artigos já aprendi bastante 🙂
    Só uma questão: usar disparador sem fios para não existir alteração no tripé, é um “must have”?

    1. Gi Cristóvão says:

      Olá Nelson!

      Com esse conjunto já consegues fazer coisas muito boas! Eu uso a app Photopills para planear estas e outras fotografias. É excelente!
      Relativamente ao disparador sem fios, não é um “must have”. Eu uso um com fios e serve perfeitamente. Aliás, não sei se é o caso da tua máquina, mas em algumas nem disparador é necessário. E se for para fazer a fotografia numa só exposição, o temporizador da máquina chega bem! Eu raramente uso o disparador…

      Abraço!

  2. Gonçalo says:

    A época da Milky Way está quase aí de novo!
    Se estiveres a pensar voltar a aventurar-te uma noite, gostava de te acompanhar e tirar fotos juntos.

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