Isso é tudo Photoshop

“Isso é tudo Photoshop!” Ep. 5 – Nitidez

Um dos comentários que recebo quase sempre acerca das minhas fotografias é sobre a nitidez das mesmas.
De seguida, vem invariavelmente “que máquina tens?”.

Disclamer: se os comentários são relativos a fotografias minhas, eu vou falar SEMPRE na perspectiva das fotografias que EU faço! Não serve todos os propósitos! Cada caso é um caso.

Existem inúmeros factores que contribuem para uma imagem nítida:

 

1 – Vidro de boa qualidade, ou por outras palavras, boas lentes!

 

O primeiro sítio a receber a imagem (luz) é a lente. Se a lente for de má qualidade, quando a imagem chegar ao sensor vai chegar com igualmente má qualidade.

Muitas vezes diz-se que mais importante do que a máquina, é a lente.

Há lentes a custar bem mais do que as máquinas!

Já me ia esquecendo: existem lentes estabilizadas. Ou seja, compensam os “tremeliques” do fotógrafo. No entanto, só compensam até um certo ponto. Não fazem milagres. É impensável ficar 10, 20 ou 30 segundos a segurar a máquina durante uma longa exposição, e não há estabilizador que compense isso.
Apesar de poderem ter essa função na lente, devem desligar a estabilização da lente sempre que a estiverem a usar num tripé! A lente vai tentar estabilizar algo que está estabilizado, tendo exactamente o efeito contrário.

 

2 – Abertura ideal da lente

Os extremos de abertura das lentes, seja ele abertura máxima ou mínima, são prejudiciais para a nitidez de uma fotografia, mas isso não significa que não sejam usadas. Todas as aberturas têm o seu uso, mas para as fotografias que faço, posso escolher praticamente qualquer abertura. Desde f/2.8 a f/22. Ora, podendo escolher qualquer abertura, vou optar por escolher a que me dá melhor nitidez.

Aqui não há uma regra. Se quiserem podem pesquisar por essa Internet fora testes e mais testes que vos podem ajudar a determinar a abertura com melhor nitidez da vossa lente.
Por normal, na lente com que mais vezes fotografo, uso uma abertura de f/8.0. Em teoria, entre f/8.0 e f/11 obtenho os melhores resultados com essa lente.

 

3 – Menor ISO possível

Em algumas máquinas será ISO 100, noutras ISO 200 e outras ainda ISO 64. Seja qual for, idealmente usar o mais baixo possível. Isto tudo porque, quanto mais alto o ISO usado, maior o “ruído” introduzido na imagem (imagem com grão?)e eu quero a imagem o mais “limpa” possível.

Nota: algumas máquinas têm opção para usar ISO abaixo do nativo. No caso da minha, tem a opção “L”, que equivale a ISO 50. Existem prós e contras, por isso ficam de fora para o que se pretende aqui.

 

4 – Foco!

Têm de se assegurar que a imagem está perfeitamente focada. Não confiem cegamente no auto-foco da vossa máquina. Por muito bom que seja! Confirmem sempre em Live View com ampliação de 10x ou tirem uma fotografia “teste” e façam zoom para confirmarem que está tudo bem focado.

Para além disto, pode haver necessidade de fazer “focus stacking”. Significa isto que se tiram várias fotografias iguais (mesma exposição, mesma composição) mudando apenas o local de focagem. Posso, por exemplo, fazer uma primeira fotografia com o foco na região mais próxima da máquina, depois outra com o foco algures a meio da cena e, por fim, outra com o foco no infinito. No final, junto as 3 fotografias no Photoshop escolhendo as partes com melhor foco. Com isto também se consegue uma grande profundidade de campo (o que, não sendo obrigatório, costuma resultar muito bem em fotografia de paisagem).

 

5 – Estabilidade!

 

Na grande maioria das fotografias que faço, o obturador fica aberto durante segundos. Por vezes minutos!

Uma fotografia assim é impossível de ser feita sem ficar tremida. Ninguém é capaz de segurar máquina e lente perfeitamente imóveis durante este tempo todo.
É por isso que existem os tripés! Para manter a máquina estável e permitir fotografias de longa exposição.
A principal função do tripé é essa mesmo: manter tudo perfeitamente estável!
É muito comum ver-se pessoas com máquinas e lentes a rondarem a casa dos milhares de euros, a “perderem” imenso tempo à procura daquela máquina ideal, da lente perfeita… e depois escolhem um tripé qualquer. O primeiro que aparecer. Ou o típico “este serve”.
Eu se tivesse que ordenar isto tudo por ordem de importância, o tripé viria logo em primeiro lugar! Não há volta a dar: estabilidade é a chave!

(Disclamer: para as fotografias que EU faço!)

E porque é que meto o tripé à frente da lente em termos de importância? Simples: uma excelente lente, montada numa excelente máquina, podem produzir fotografias MEDONHAS se o tripé abanar por todo o lado durante a exposição.
Já a típica “lente de kit”, com uma máquina de entrada de gama, montado num tripé realmente estável, pode produzir resultados MUITO BONS! Seguramente melhores do que os do exemplo anterior.
Então mas isso significa que devemos todos gastar milhares de euros num tripé?
Como quase tudo na fotografia, há sempre formas criativas de contornar as limitações do material.
Se o clima estiver de feição, sem ponta de vento, eu diria que qualquer tripé (desde que em boas condições!) é capaz de cumprir o seu propósito. O problema começa a surgir quando vem uma brisa, uma rajada de vento, ou a água dum rio ou mar a bater nas pernas do tripé… aí sim, começam a perceber que se calhar não têm um tripé assim tão estável.
Alguns truques passam por manter a coluna central (caso exista) toda para baixo, evitar abrir todas as secções do tripé (deixar a última por abrir, por exemplo), colocar um peso no gancho da coluna central…
Isto é tão ou mais evidente quanto maior for a distância focal usada.
Já vos falei da cabeça do tripé? Óptimo! Como é óbvio, a cabeça do tripé terá que igualar a qualidade do mesmo. Caso contrário… ora bolas 🙂

6.1 – O terreno.

Tenham atenção ao sítio onde colocam o tripé! Preferencialmente num chão duro (rochas, cimento, alcatrão…). Claro que se estiverem a fotografar na praia e só houver areia, é aí que o vão colocar. O que costumo fazer é enterrar as pernas o máximo possível, e no momento do disparo não mexer um milímetro que seja os pés.
No caso do chão ser terra/relva/lama, aconselho a tirarem os pés de borracha e meterem as pontas. Estas vão ficar espetadas no chão evitando que as pernas do tripé se mexam.

Ok, já escolhi a lente, está montada na máquina que por sua vez já está em cima dum tripé realmente estável. E agora?

Apesar de já parecer tudo em condições para fazer o disparo, há ainda outros detalhes a ter em conta:

  • Usar um cabo disparador remoto. Ao usarmos um cabo destes (hey! aqui podem ser dos mais baratos do chinês!), já podemos fazer o disparo sem tocarmos na máquina. É como se tivéssemos transferido o botão de disparo da máquina para o comando.

  • Usar o temporizador (timer). Basicamente permite “adiar” o disparo uns segundos. Normalmente 2 ou 10 segundos (pode variar consoante a máquina). Ou seja, depois de carregarem no botão de disparo, a máquina aguarda 2 ou 10s e só depois tira a fotografia. Este intervalo de tempo permite que a máquina estabilize, não havendo assim movimento aquando do disparo.

Finalmente, o resultado do disparo aparece no ecrã da máquina! Chegam a casa, passam as fotografias para o computador e… Estão em JPG!

Este tema dava outro “Isso é tudo Photoshop!”. Mas vamos lá atalhar e dizer simplesmente que deveriam ter fotografado no formato nativo da vossa máquina, também chamado RAW. Ok, se a vossa máquina não permitir isso, terão que se ficar pelo JPG. Mas se permitir, é em RAW que vão fotografar!

E só agora, para finalizar, é que podemos recorrer ao Photoshop/Lightroom para um último retoque.

Há mil e uma forma de aplicar o “famoso” Sharpness. O mais simples deles todos podem encontrar no Lightroom. Tem lá um slider dedicado só a isso. Não tenham medo de o puxar para cima, se bem que não me lembro de alguma vez ter passado da marca dos “100”. Logo abaixo têm outro slider: Masking. O que isto vai fazer é colocar condições aos locais onde vai aplicar o sharpness. Nem tudo precisa de ficar nítido: por exemplo, o céu, a água… Por norma, são coisas que gosto deixar suave, sem exagerar no detalhe.

Outra forma é usar um plugin chamado Nik Software que tem uma opção de sharpness. Apesar de haver maneira de o usar no Lightroom, é no Photoshop que ele tem o seu maior potencial. Eu tendo a gostar mais deste método.

Mas será que TODAS as fotografias precisam desses cuidados?

Eu atrevo-me a dizer que não. Tenho duas fotografias publicadas na minha página de Facebook (www.facebook.com/gicristovaophotography) que não estão perfeitamente nítidas. Na verdade até estão longe de estarem nítidas! Uma falha no foco deitou (quase) tudo a perder… Então porque é que publiquei na mesma? Porque joguei com algo a meu favor: o tamanho da fotografia! Quanto menor for, mais nítida vai parecer! 😉 E como tal, para efeitos de “Facebook”, essas duas fotografias parecem normais. No entanto só servem para isso mesmo.

Este texto já vai longo por isso fico-me por aqui! Sintam-se à vontade para comentar ou acrescentar algo que tenha escapado!

(6) Comments

  1. Carlos Almeida says:

    Ora bem, como seguidor do teu trabalho na Zwame e no instagram, não poderia deixar de apreciar o texto, até porque se te sigo será por algum motivo.
    De facto, para além de muito informativo, o texto mostra-se descontraído, simples a até “animado”.
    Por tudo isso, os meus parabéns!
    Se calhar, podes ir para o outro “Isso é tudo Photoshop!” 🙂
    Abraço

    1. Gi Cristóvão says:

      Olá Carlos!

      Muito obrigado pelo comentário. Tenho mais alguns a serem finalizados e vou publicando. Não será semanalmente, mas pelo menos mensalmente queria ver se o fazia.

      Estou aberto a sugestões para temas!

      Abraço e boas fotos!

      1. Fantástico post e de fácil compreensão que faz todo o sentido.
        Sempre muito muito útil para os amantes de fotografia!
        Contínua pois estão brilhantes , simples e animados como diz e bem o Carlos.
        Abraço

        1. Gi Cristóvão says:

          Olá Francisco!

          Muito obrigado! A ideia é mesmo essa, manter os posts neste registo. Não passa tanto por tutoriais, mas dar a conhecer o que está por trás duma fotografia, até para que se perceba que apesar de se falar muito do Photoshop, há muito a fazer antes das fotos lá chegarem.

          Estou aberto a sugestões de temas! (de preferência relacionados com o tipo de fotografia que faço)

          Abraço e boas fotos!

  2. Gostei! Texto claro e conciso. A tocar nas mensagens chave. Só hoje conheci a tua iniciativa mas sem dúvida que é de louvar. Faz falta falar mais sobre fotógrafia, falar e debater com conhecimento. Faz falta surgirem mais publicações em português para quem quer aprender fotografia. E cá também há gente com muita qualidade. Da minha parte um Bem Haja. Um grande abraço e fico a espera de mais

    1. Gi Cristóvão says:

      Olá Nuno!

      Muito obrigado pelas palavras!
      Esse também foi um dos motivos que me levaram a começar isto. Debater um bocado temas relacionados com a fotografia em si (e não com a indústria).

      Tenho mais alguns temas preparados e vou publicando aos poucos. Semanalmente será difícil, mas pelo menos queria ver se o fazia mensalmente.

      Estou aberto a sugestões para temas, preferencialmente relacionado com o tipo de fotografia que faço.

      Abraço e boas fotos!

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