Não sendo algo que faça regularmente, o startrail resulta muito bem em astrofotografia!
E como é que se faz isto?
Pois bem, existem várias formas de fazer startrail:
– Uma looooooooooooonga exposição;
– Várias longas exposições combinadas numa só fotografia.
Eu sou adepto da segunda forma e já explico porquê.
Apesar de, aparentemente, vermos as estrelas a “moverem-se” no céu, na realidade é a Terra que se está a mexer, causando este efeito. É claro que para isto resultar, a Terra não pode ser plana! 😀
Para conseguir este arrasto das estrelas nesta fotografia, foram precisas duas horas (e mais uns minutos) com a máquina em disparo contínuo. Cada exposição com 30 segundos.
“E porquê várias exposições de 30 segundos e não uma única de 2 horas?”, perguntam vocês.
Em primeiro lugar porque tenho amor ao sensor da máquina. No exemplo em cima, podem ver uma exposição de 253s e o arrasto das estrelas no céu. Era só deixar 30x mais tempo e teria um efeito semelhante a 253 exposições de 30s.
E em segundo lugar, talvez até o mais importante, é que se alguma coisa imprevista acontecer durante uma exposição de 2 horas, vai tudo para o lixo e foram 2 horas perdidas.
No entanto, se acontecer algo numa das centenas de exposições de 30 segundos, posso sempre eliminar essa exposição e safar-me na mesma! Aliás, do outro lado da estrada, depois da água, volta e meia passavam carros que me estragavam a coisa com as luzes apontadas à máquina. Assim, fui a essas exposições corrigir o que consegui e apagar as que ficaram “estragadas”. No final deu para fazer na mesma o startrail.
Mas há mais a ter em conta: mediante a direcção que apontamos a máquina, o efeito de arrasto das estrelas será diferente.
Neste caso, consegue ver-se o equador celeste, mas se tivesse apontado a máquina mais para a direita e para cima, iria apanhar a estrela polar e o efeito de arrasto seriam círculos em volta dessa estrela.
Isto pode ser muito importante para efeitos de composição!
Para saber com o que contar, uso a app Photopills. Com a sua realidade aumentada, consegue-se simular o tipo de arrasto que vão fazer, mediante a orientação que vão fotografar.
Curiosamente, o meu objectivo para esta fotografia não era este. O que eu queria mesmo era conseguir alinhar o núcleo da Via Láctea com o final da estrada! No entanto, isto só aconteceria 2 meses mais tarde. Assim sendo, parti para uma solução alternativa. Reparei que o equador celeste ia “cortar” na perfeição a imagem e então pensei fazer um startrail. Inicialmente só com a estrada e a palavra “Luz”, mas depois ocorreu-me que podia ficar bem um elemento humano com uma lanterna, para destacar ainda mais a “Luz” e dar uma sensação que conexão com o Universo.
Voltando ao tema, depois de me decidir pela composição (ainda de dia!), foi só chegar ao local à noite, montar o tripé, fazer 2 ou 3 exposições para enquadrar tudo direitinho e meter a máquina a disparar.
Coloquei a máquina em disparo contínuo, com exposições de 30 segundos. Liguei o cabo disparador e bloqueei o botão do comando. Desta forma, sempre que a máquina acaba de fazer uma exposição, começa imediatamente outra, minimizando ao máximo o tempo entre exposições. E isto é muito importante! O tempo entre disparos deve ser o mais curto possível, caso contrário, quando formos “montar” a fotografia, vão ficar falhas no rasto das estrelas. Ok, podem ser minimizados com software!
A ideia a reter aqui é que quanto menor o tempo entre disparos, melhor!
Normalmente, quando faço startrails, não gosto de “carregar” muito na exposição. É uma questão de gosto pessoal.
Em termos de ISO escolho algo entre 800 e 1600, enquanto que para o arco da via láctea já me estico até aos 3200. Posso também fechar a lente até f/4.0… mas nem sempre faço isso.
Quanto mais tempo a máquina estiver a disparar, maior o arrasto das estrelas. Portanto, não há milagres aqui: se quiserem um grande arrasto, vão ter que esperar umas horas para terem tudo. Aqui foram 2h e mais uns minutos.
“Ah mas tu ficaste na fotografia! Significa que estiveste ali mais de 2h a segurar a lanterna?”
Sim! E com isso bati o record de homem-estátua! 😀
Agora a sério, o meu retrato é outra exposição. Basicamente, depois de terminar de captar as exposições para o startrail, fiz outra comigo a segurar a lanterna. No final juntei as duas coisas: o céu resulta da combinação de mais de 250 exposições e o chão é uma única exposição.
Em termos de software, uso dois: Starstax e Sequator.
Para efeitos de startrail parecem-me fazer todos o mesmo. É questão de gosto e de verem com o qual se adaptam melhor. Também era possível fazer no Photoshop, mas é tão mais simples com estes que nem vale o esforço de ir para o Photoshop juntar as exposições todas.
A única altura em que fui ao Photoshop foi para juntar o startrail e a exposição comigo a segurar a lanterna. No final levou uns retoques na edição para destacar a luz da lanterna no chão.
E com isto passaram-se quase 3 horas da minha vida só para uma fotografia!
Um dia ainda me dedico a ensinar isto no terreno.
Excelente artigo e foto! Parabéns!
Já agora, que tipo de lanterna usaste?
Olá Gonçalo,
Muito obrigado! A luz é duma lanterna que pertence à mala meu carro ^^’ Serve para iluminar a mala, mas dá para retirar e usar como lanterna normal. Como tem uma cor quente e é de baixa luminosidade, serve muito bem para estas fotografias.
Abraço
Aha boa!
Estou a pensar criar uma foto deste género e estou à procura de uma lanterna que crie um efeito parecido.
Abraço
Eu diria que qualquer lanterna serve! Podes é ter que a desligar a meio da exposição. No meu caso não foi preciso porque é uma lanterna fraquinha, mas se fosse de maior intensidade, teria desligado a meio da exposição para não queimar.
A única coisa que teria em conta é a temperatura de cor da lanterna. De resto, acho que te safas sem problema.
Qualquer dúvida é só perguntares!
Abraço